sexta-feira, 1 de outubro de 2010

"Tragédia no lar" de Castro Alves


Na Senzala, úmida, estreita,
Brilha a chama da candeia,
No sapé se esgueira o vento.
E a luz da fogueira ateia.

Junto ao fogo, uma africana,
Sentada, o filho embalando,
Vai lentamente cantando
Uma tirana indolente,
Repassada de aflição.
E o menino ri contente...
Mas treme e grita gelado,
Se nas palhas do telhado
Ruge o vento do sertão.

Se o canto pára um momento,
Chora a criança imprudente...
Mas continua a cantiga...
E ri sem ver o tormento
Daquele amargo cantar.
Ai! triste, que enxugas rindo
Os prantos que vão caindo
Do fundo, materno olhar,
E nas mãozinhas brilhantes
Agitas como diamantes
Os prantos do seu pensar ...

E voz como um soluço lacerante
Continua a cantar:

"Eu sou como a garça triste
"Que mora à beira do rio,
"As orvalhadas da noite
"Me fazem tremer de frio.

"Me fazem tremer de frio
"Como os juncos da lagoa;
"Feliz da araponga errante
"Que é livre, que livre voa.

"Que é livre, que livre voa
"Para as bandas do seu ninho,
"E nas braúnas à tarde
"Canta longe do caminho.

"Canta longe do caminho.
"Por onde o vaqueiro trilha,
"Se quer descansar as asas
"Tem a palmeira, a baunilha.

"Tem a palmeira, a baunilha,
"Tem o brejo, a lavadeira,
"Tem as campinas, as flores,
"Tem a relva, a trepadeira,

"Tem a relva, a trepadeira,
"Todas têm os seus amores,
"Eu não tenho mãe nem filhos,
"Nem irmão, nem lar, nem flores".

A cantiga cessou. . . Vinha da estrada
A trote largo, linda cavalhada
De estranho viajor,
Na porta da fazenda eles paravam,
Das mulas boleadas apeavam
E batiam na porta do senhor.

Figuras pelo sol tisnadas, lúbricas,
Sorrisos sensuais, sinistro olhar,
Os bigodes retorcidos,
O cigarro a fumegar,
O rebenque prateado
Do pulso dependurado,
Largas chilenas luzidas,
Que vão tinindo no chão,
E as garruchas embebidas
No bordado cinturão.

A porta da fazenda foi aberta;
Entraram no salão.

Por que tremes mulher? A noite é calma,
Um bulício remoto agita a palma
Do vasto coqueiral.
Tem pérolas o rio, a noite lumes,
A mata sombras, o sertão perfumes,
Murmúrio o bananal.

Por que tremes, mulher? Que estranho crime,
Que remorso cruel assim te oprime
E te curva a cerviz?
O que nas dobras do vestido ocultas?
É um roubo talvez que aí sepultas?
É seu filho ... Infeliz! ...

Ser mãe é um crime, ter um filho - roubo!
Amá-lo uma loucura! Alma de lodo,
Para ti - não há luz.
Tens a noite no corpo, a noite na alma,
Pedra que a humanidade pisa calma,
— Cristo que verga à cruz!

Na hipérbole do ousado cataclisma
Um dia Deus morreu... fuzila um prisma
Do Calvário ao Tabor!
Viu-se então de Palmira os pétreos ossos,
De Babel o cadáver de destroços
Mais lívidos de horror.

Era o relampejar da liberdade
Nas nuvens do chorar da humanidade,
Ou sarça do Sinai,
— Relâmpagos que ferem de desmaios...
Revoluções, vós deles sois os raios,
Escravos, esperai! ...

..................................................................

Leitor, se não tens desprezo
De vir descer às senzalas,
Trocar tapetes e salas
Por um alcouce cruel,
Que o teu vestido bordado
Vem comigo, mas ... cuidado ...
Não fique no chão manchado,
No chão do imundo bordel.

Não venhas tu que achas triste
Às vezes a própria festa.
Tu, grande, que nunca ouviste
Senão gemidos da orquestra
Por que despertar tu'alma,
Em sedas adormecida,
Esta excrescência da vida
Que ocultas com tanto esmero?
E o coração - tredo lodo,
Fezes d'ânfora doirada
Negra serpe, que enraivada,
Morde a cauda, morde o dorso
E sangra às vezes piedade,
E sangra às vezes remorso?...

Não venham esses que negam
A esmola ao leproso, ao pobre.
A luva branca do nobre
Oh! senhores, não mancheis...
Os pés lá pisam em lama,
Porém as frontes são puras
Mas vós nas faces impuras
Tendes lodo, e pus nos pés.

Porém vós, que no lixo do oceano
A pérola de luz ides buscar,
Mergulhadores deste pego insano
Da sociedade, deste tredo mar.
Vinde ver como rasgam-se as entranhas
De uma raça de novos Prometeus,
Ai! vamos ver guilhotinadas almas
Da senzala nos vivos mausoléus.

— Escrava, dá-me teu filho!
Senhores, ide-lo ver:
É forte, de uma raça bem provada,
Havemos tudo fazer.

Assim dizia o fazendeiro, rindo,
E agitava o chicote...
A mãe que ouvia
Imóvel, pasma, doida, sem razão!
À Virgem Santa pedia
Com prantos por oração;
E os olhos no ar erguia
Que a voz não podia, não.

— Dá-me teu filho! repetiu fremente
o senhor, de sobr'olho carregado.
— Impossível!...
— Que dizes, miserável?!
— Perdão, senhor! perdão! meu filho dorme...
Inda há pouco o embalei, pobre inocente,
Que nem sequer pressente
Que ides...
— Sim, que o vou vender!
— Vender?!. . . Vender meu filho?!

Senhor, por piedade, não
Vós sois bom antes do peito
Me arranqueis o coração!
Por piedade, matai-me! Oh! É impossível
Que me roubem da vida o único bem!
Apenas sabe rir é tão pequeno!
Inda não sabe me chamar? Também
Senhor, vós tendes filhos... quem não tem?

Se alguém quisesse os vender
Havíeis muito chorar
Havíeis muito gemer,
Diríeis a rir — Perdão?!
Deixai meu filho... arrancai-me
Antes a alma e o coração!

— Cala-te miserável! Meus senhores,
O escravo podeis ver ...

E a mãe em pranto aos pés dos mercadores
Atirou-se a gemer.
— Senhores! basta a desgraça
De não ter pátria nem lar, -
De ter honra e ser vendida
De ter alma e nunca amar!

Deixai à noite que chora
Que espere ao menos a aurora,
Ao ramo seco uma flor;
Deixai o pássaro ao ninho,
Deixai à mãe o filhinho,
Deixai à desgraça o amor.

Meu filho é-me a sombra amiga
Neste deserto cruel!...
Flor de inocência e candura.
Favo de amor e de mel!

Seu riso é minha alvorada,
Sua lágrima doirada
Minha estrela, minha luz!
É da vida o único brilho
Meu filho! é mais... é meu filho
Deixai-mo em nome da Cruz!...

Porém nada comove homens de pedra,
Sepulcros onde é morto o coração.
A criança do berço ei-los arrancam
Que os bracinhos estende e chora em vão!

Mudou-se a cena. Já vistes
Bramir na mata o jaguar,
E no furor desmedido
Saltar, raivando atrevido.
O ramo, o tronco estalar,
Morder os cães que o morderam...
De vítima feita algoz,
Em sangue e horror envolvido
Terrível, bravo, feroz?

Assim a escrava da criança ao grito
Destemida saltou,
E a turba dos senhores aterrada
Ante ela recuou.

— Nem mais um passo, cobardes!
Nem mais um passo! ladrões!
Se os outros roubam as bolsas,
Vós roubais os corações! ...

Entram três negros possantes,
Brilham punhais traiçoeiros...
Rolam por terra os primeiros
Da morte nas contorções.

Um momento depois a cavalgada
Levava a trote largo pela estrada
A criança a chorar.
Na fazenda o azorrague então se ouvia
E aos golpes - uma doida respondia
Com frio gargalhar! ... 


(Castro Alves. Os Escravos, 1883)

Análise formal e temática


O poema “Tragédia no Lar”, de Castro Alves, foi publicado (postumamente) em seu livro Os Escravos, uma compilação de poemas de cunho abolicionista.
Passemos agora a uma pequena análise temática de “Tragédia no Lar”. A base do poema é a exposição da dura e triste realidade cotidiana dos escravos; para isto, Castro Alves conta, ao longo do poema, a história de uma escrava e seu filho, do sofrimento que é para ela não poder ver o filho livre e da quase-venda dele pelo seu senhor. O sentimento de liberdade querido pela escrava pode ser visto em seu cantarolar, sentimento este que o condoreiro expressa através da retratação da natureza, principalmente no que diz respeito às aves, pois estas são exemplo da liberdade quando planam na imensidão que é o céu:

Me fazem tremer de frio
Como os juncos da lagoa;
Feliz da araponga errante
Que é livre, que livre voa.
A partir da segunda parte do poema Castro Alves dialoga explicitamente com o leitor, uma espécie de convite a assistir ao desenrolar dos acontecimentos, a conhecer aquela triste vida sem esperança de perto e o que aconteceria, por fim, com a escrava e seu filho:

Leitor, se não tens desprezo
De vir descer às senzalas,
Trocar tapetes e salas
Por um alcouce cruel,
Que o teu vestido bordado
Vem comigo, mas ... cuidado ...
Não fique no chão manchado,
No chão do imundo bordel.”

E há uma mistura de diálogos até o final, diálogos entre a escrava e seu senhor, entre o eu-lírico narrador e o leitor. As falas da escrava explicitam o sentimento de impotência e a resignação que os escravos tinham perante o poderio de seus senhores:

“Senhor, por piedade, não
Vós sois bom antes do peito
Me arranqueis o coração!
Por piedade, matai-me! Oh! É impossível
Que me roubem da vida o único bem!
Apenas sabe rir é tão pequeno!
Inda não sabe me chamar? Também
Senhor, vós tendes filhos... quem não tem?”

Por outro lado, percebe-se, por fim, uma voz que grita em favor dos escravos, que representa a eles a esperança, e que é explicitada através da reação de outros negros:

Entram três negros possantes, 
Brilham punhais traiçoeiros... 
Rolam por terra os primeiros 
Da morte nas contorções.

Um momento depois a cavalgada 
Levava a trote largo pela estrada 
A criança a chorar.
Na fazenda o azorrague então se ouvia 
E aos golpes - uma doida respondia 
Com frio gargalhar! ...”

Este poema é dividido em duas partes. A primeira delas possui 18 estrofes, que variam quanto ao número de versos, bem como com relação ao número de sílabas poéticas (com a predominância, entretanto, de heptassílabos). A segunda, por sua vez, possui 21 estrofes, com as mesmas características das da parte que a antecede.
No que diz respeito à musicalidade, o poema é cheio de rimas, uma vez que cada estrofe tem o seu próprio grupo de rimas utilizadas, que dificilmente se repetem ao longo daquele; quando isto ocorre, é após uma quantidade razoável de estrofes.
Com relação ao nível lexical, podemos perceber que, levando-se em conta que os arcaicos utilizados no século XIX, a linguagem é clara e simples, de fácil entendimento. Poucos são os vocábulos que necessitamos buscar seus significados. Assemelha-se, portanto, à linguagem coloquial da fala daquela época, porquanto este é objetivo de Castro Alves: fazer uma aproximação entre o seu ideal, expresso através do poema, e a população, para conscientização político-social desta quanto à importância da abolição da escravatura, uma vez que o Brasil foi um dos países que mais demorou a progredir neste sentido (e em vários outros, mas que não cabem ser destacados aqui).
Além disso, é grande a adjetivação feita, bem como o número de substantivos utilizados, sempre como forma de enfatizar os argumentos dados.
Quanto ao nível sintático, uma marca bastante expressiva do estilo usado por Castro Alves e que está presente também neste poema é o uso de reticências, travessões e pontos de exclamação. Poucos poetas da língua portuguesa usaram tantos recursos gráficos como o condoreiro. O objetivo da utilização desses recursos é a reprodução da oralidade dos discursos (exaltados) das praças públicas ou das declamações em palcos, com o impacto e, consequentemente, a conscientização das pessoas sobre o problema da escravidão, como falado no parágrafo anterior.
Os pontos de exclamação são utilizados para dar ênfase ao discurso; as reticências, por sua vez, indicam pausas dramáticas e quando seguem as exclamações reforçam as ênfases dadas por estas:

“Por que tremes, mulher? Que estranho crime,
Que remorso cruel assim te oprime
E te curva a cerviz?
O que nas dobras do vestido ocultas? 
É um roubo talvez que aí sepultas?
É seu filho ... Infeliz! ...”

Os travessões que aparecem neste poema têm caráter dúplice: ora aparecem como introdutórios de falas (marca do discurso direto) que se dirigem a um interlocutor específico, ora como pausas da elocução, como as reticências:

Escrava, dá-me teu filho!
Senhores, ide-lo ver:
É forte, de uma raça bem provada,
Havemos tudo fazer.”(marca do discurso direto)

“Um momento depois a cavalgada 
Levava a trote largo pela estrada 
A criança a chorar.
Na fazenda o azorrague então se ouvia 
E aos golpes uma doida respondia 
Com frio gargalhar! ...”  (pausa)

Paralelismos sintáticos são muito utilizados em todo o poema, visando, através da repetição de dadas estruturas, reafirmar os argumentos dados:

Tem a palmeira, a baunilha,
Tem o brejo, a lavadeira,
Tem as campinas, as flores,
Tem a relva, a trepadeira,”

Com relação ao nível semântico, diversas figuras de linguagem são utilizadas por Castro Alves ao longo de “Tragédia no Lar”; uma forma de impactar o leitor sobre a triste e cruel realidade por que passavam os escravos e conscientizar sobre a necessidade de uma revolução na sociedade da época. A primeira figura a ser citada é a metáfora, bastante recorrente em todo o poema, como vemos em:

Ser mãe é um crime, ter um filho - roubo
Amá-lo uma loucura! Alma de lodo,
Para ti - não há luz.
Tens a noite no corpo, a noite na alma, 
Pedra que a humanidade pisa calma, 
— Cristo que verga à cruz!”

Também marca presença o hipérbato, figura também chamada de inversão, pois há a troca da ordem natural de uma sentença:

“Assim dizia o fazendeiro, rindo, 
E agitava o chicote...
A mãe que ouvia 
Imóvel, pasma, doida, sem razão! 
À Virgem Santa pedia 
Com prantos por oração;
E os olhos no ar erguia 
Que a voz não podia, não.”

Há recorrência no uso de antíteses, como forma de revelar a hipocrisia da sociedade:

Não venham esses que negam
A esmola ao leproso, ao pobre.
A luva branca do nobre
Oh! senhores, não mancheis...
Os pés lá pisam em lama,
Porém as frontes são puras
Mas vós nas faces impuras
Tendes lodo, e pus nos pés.”

E elipses, como maneira de tornar o poema mais dinâmico, acompanhando os acontecimentos narrados:

Por que tremes mulher? A noite é calma, 
Um bulício remoto agita a palma 
Do vasto coqueiral.
Tem pérolas o rio, a noite lumes,
A mata sombras, o sertão perfumes,
Murmúrio o bananal.” (omissão: tem)

Refletindo sobre o poema: questionamentos


1. Considerando Castro Alves o maior representante da última fase do Romantismo, é possível reconhecer no poema “Tragédia no lar” o conflito entre o bem e o mal tão prezado pelos românticos? De qual modo o poeta apresenta este conflito?

2. Ao observar o estilo de linguagem utilizado em “tragédia no lar”, percebemos a poesia se aproximando do discurso.
Você concorda com esse ponto de vista? Ilustre seu posicionamento com argumentos extraídos do poema.

3. Direcionando o olhar para a perspectiva semântica, como você interpreta o emprego das diversas figuras de linguagem que são utilizadas por Castro Alves ao longo de “Tragédia no Lar”? Qual imagem elas transmitem para você?

4. De qual modo você, leitor, interpreta este “convite à senzala” que Castro Alves propõe no seguinte fragmento de “Tragédia no lar”:

“Leitor, se não tens desprezo
De vir descer às senzalas,
Trocar tapetes e salas
Por um alcouce cruel,
Que o teu vestido bordado
Vem comigo, mas ... cuidado ...
Não fique no chão manchado,
No chão do imundo bordel.”

Declamação de"tragédia no lar" em novela da Rede Globo

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Breve apanhado sobre "Os Escravos"


Frontispício da primeira edição de “Os Escravos”

Publicado em 1883, doze anos após a morte do autor, Os Escravos reúne as composições anti-escravagistas de Castro Alves, entre elas, os famosos poemas abolicionistas “Tragédia no lar”, “O Navio Negreiro” e “Vozes d’África”.
            Castro Alves não foi o primeiro poeta romântico a tratar do tema da escravidão. Antes dele, Gonçalves Dias, Fagundes Varela e outros abordaram a questão. No entanto, nenhum poeta foi mais veemente e engajado à causa social e humanitária do abolicionismo como ele. Castro Alves procurou aprofundar as implicações humanas da escravatura adequando a sua eloquência condoreira à luta abolicionista. Retrata o escravo de modo romanticamente trágico para despertar a sociedade, habituada a três séculos de escravidão, para o que há de mais desumano neste regime.
            Castro Alves foi o principal e mais popular representante do estilo romântico que predominou na poesia brasileira entre 1850 e 1870, denominado condoreiro por Capistrano de Abreu (1853-1927). É caracterizado por uma poesia retórica, repleta de hipérboles e antíteses, em que se destacam os temas sociais e políticos, principalmente a defesa da abolição da escravatura e a apologia da república. Os poetas condoreiros foram influenciados diretamente pela poesia social de Vitor Hugo - o Condoreirismo é o hugoanismo brasileiro. De teor declamativo e pendor social, um de seus símbolos mais frequentes é a imagem do condor dos Andes, pássaro que representa a liberdade da América, o que sugeriu a Capistrano de Abreu a denominação dada ao estilo.
            Nos poemas de Os Escravos, a poesia é suplantada pelo discurso político grandiloquente e até verborrágico. Para atingir o alvo e persuadir o leitor e, muito mais, o ouvinte, o poeta abusa de antíteses e hipérboles e apresenta uma sucessão vertiginosa de metáforas que procuram traduzir a mesma idéia. A poesia é feita para ser declamada e o exagero das imagens é intencional, deliberado, para reforçar a idéia do poema.

          

Bibliografia do autor


  • Espumas Flutuantes, 1870 (Único livro publicado em vida)
  • A Cachoeira de Paulo Afonso, 1876
  • Os Escravos, 1883
  • Hinos do Equador, em edição de suas Obras Completas (1921)
  • Tragédia no Mar
  • O Navio Negreiro

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

"Mãe Preta": Ampliando as possibilidades de visualização...









Agradecimentos à: esculturasemsaopaulo.blogspot.com

Ligações externas: A escultura "Mãe preta" de Júlio Guerra remete à mãe de "Tragédia no lar"



Escultura Mãe Preta (1955) de Júlio Guerra (1912/2001), situada ao lado da Igreja N.Srª do Rosário dos Homens Pretos (início do séc. XX), localizado no Largo do Paissandu na cidade de São Paulo.  A obra foi tombada pelo CONPRESP (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo). 
Júlio Guerra nasceu em 1912 em Santo Amaro - SP. Apesar de ter feito viagens ao exterior e por vários lugares do Brasil, Guerra sempre morou em sua cidade natal por opção.  O escultor iniciou sua carreira por volta dos 14 anos de idade. As principais obras escultóricas de Júlio Guerra foram pensadas para serem instaladas em locais públicos. Foi Júlio Guerra quem esculpiu a obra Borba Gato. Além de escultor, Guerra explorou relevos e mosaicos, pintura e também escreveu um livro. Durante o seu trajeto artístico, Júlio Guerra foi bastante criticado por estar sempre presente nos salões, ou por ser muito acadêmico , ou por ser um inovador de técnicas através de suas obras.
Esse artista completo consegue provocar em seu público admiração estética pela sua forma plástica e até manifestações sentimentais, como no caso de Mãe Preta, mobilizando cultos de adoração a essa imagem por parte da comunidade afro-brasileira e dos que se identificam com o significado da obra. Participantes de manifestações da comunidade afro-brasileira colocam sempre velas ao lado da escultura. Mãe preta é uma homenagem à 'Mucama', uma escrava que dava seu leite ao filho do 'Senhô', sendo que para isso, muitas vezes, era sacrificado seu próprio filho, para sobrar leite ao seu 'fio branco'. Em que ponto  Mãe Preta de Júlio Guerra pode ser considerada uma obra intertextual ao poema de Castro Alves tratado neste blog? É nesse ponto que percebemos o elo intertextual com o poema de Catro Alves. A dor, que ambas as obras exprimem, elabora consigo a significação artística e a mimetização referencial da realidade que sente , que sofre uma mãe que se vê perdida de seu filho.